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Indígenas de nove países amazônicos anunciam aliança de apoio a corredor ecológico


Para os indígenas, a natureza é um organismo vivo, complexo e completo, em que as partes (matas, terras, flora, animais e, claro, humanos) se comunicam e funcionam perfeitamente. Portanto, a princípio, parece non sense a proposta de criação de um corredor ecológico na região da Amazônia, para conectar a floresta do Amapá aos Andes. Afinal, para eles, essa conexão já existe em sua cosmogonia, é algo que eles reconhecem, veem, sentem. Espiritualmente, inclusive. Não há qualquer separação.

Mas os indígenas dos nove países amazônicos – Brasil, Colômbia, Bolívia, Venezuela, Guiana, Suriname, Guiana Francesa, Peru e Equador – entendem, também, que é necessário unir forças para proteger a floresta do desenvolvimento. Por isso, depois de adiar esta decisão por muito tempo para analisar bem prós e contras, resolveram apoiar o projeto Corredor Triplo A. Conhecido também por AAA (Andes, Atlântico, Amazonas) ou Caminho de Anaconda, foi idealizado pelo americano naturalizado colombiano Martin von Hildebrand, da Fundação Gaia Amazônia. Sua divulgação é recente, mas sua estrutura começou a ser pensada há cerca de 30 anos.

Se estabelecido, o projeto vai envolver 400 etnias indígenas (sem falar de outras comunidades tradicionais), cerca de 30 milhões de pessoas e proteger 2,6 milhões de km2 de floresta – mais ou menos a metade do corredor -, que ainda estão intactas, protegidas pelos indígenas apesar das ameaças constantes. O Corredor vai ligar parques naturais, territórios indígenas e hotspots da biodiversidade dessa região, e valorizar também as culturas tradicionais e ancestrais.

Assim, na semana passada, em Bogotá, líderes de organizações indígenas desses nove países se reuniram para anunciar esse apoio. Em pronunciamento conjunto, disseram: “O corredor é um território entendido a partir do biológico, do cultural, do espiritual-sagrado, onde diferentes culturas tradicionais e ancestrais, comunidades locais, grupos tribais e outros grupos populacionais sobrevivem e interagem”.

Harol Rincón Ipuchima, representante OPIAC da Colômbia acrescentou: “Acreditamos que a nossa presença é vital para a regulação do clima e a proteção das matas, somos responsáveis ​​pela saúde da bacia hidrográfica, tanto espiritual e ambiental. Budas, Krishnas, todos acreditam que os seres humanos e a natureza são um só. Os únicos que se separaram são os brancos”.

Angela Kaxuyaba, indígena brasileira do Pará, destacou que estas lideranças devem “ser parte de um novo diálogo. Não só nas alianças entre as etnias, mas com a sociedade civil. Nós não estamos isolados do mundo, isso é vital para a vida de todos os seres humanos, não apenas a nossa”.

Próximos passos

As conversas de Hildebrand com governos, ministérios e, até, com o Vaticano já avançaram bem. Bom lembrar que o Papa Francisco acompanha a realidade dos povos indígenas da América do Sul e os defende sempre. E o apoio que o projeto tem recebido do governo de Juan Manuel Santos, presidente da Colômbia, desde o inicio, é total. Ele se comprometeu a conversar diretamente com Temer. Em outubro, isso ainda era uma ideia, mas segundo o site Observatório das Veias Abertas (que tem críticas severas ao projeto, identificando-o como um mecanismo para entregar a Amazônia para a exploração estrangeira), Temer não só aceitou o convite para participar do projeto, como o rebatizou de Projeto Paisagens Sustentáveis da Amazônia.

O compromisso dos países latino-americanos (com exceção de Equador e Chile) na Cúpula de Paris, em reduzir o desmatamento da Amazonia a zero, o que diminuirá emissões de gases de efeito estufa, favoreceu bastante o projeto. Agora, com o apoio da aliança indígena, será possível avançar mais.

A água é uma das principais preocupações desses países porque o continente depende dos 200 bilhões de toneladas que viajam do Oceano Atlântico e são absorvidas pela flora da Amazônia. Parte dela viaja na forma de vapor – rios voadores – que o vento empurra para os Andes e volta a ser água, irrigando as terras de boa parte da América Latina, passando pelo Brasil, até regressar ao mar.

Para os indígenas amazônicos, a conectividade proposta pelo Corredor Triplo A pode “ajudar na regulação do ecossistema para que flua com o clima e nos oriente para semear e colher frutas na selva”. E mais: “Há dinâmicas a partir da foz do rio Amazonas, onde anacondas são geradas, e a manutenção do volume de água e chuvas pode colaborar também para salvar esta forma de vida antiga”. Daí um dos nomes do projeto: Caminho da Anaconda.

Hildebrand sempre lembra que 50% do hipotético corredor já está protegido de alguma forma, devido aos serviços prestados involuntariamente pelos indígenas com sua sabedoria de preservação e respeito à natureza.

Agora, o próximo passo é levar a proposta final do projeto, com o aval dos indígenas, aos governos que já aderiram e à próxima Conferência sobre Diversidade Biológica da ONU (COP 14), que será realizada em novembro em Sharm El Sheikh, no Egito. Não é pouca coisa, não!!

Entre os signatários, agora, estão os maiores grupos indígenas da bacia amazônica, que juntos somam cerca de 400 grupos (incluindo os que estão em isolamento voluntário), representados por estas instituições: COICA (Coordenadora das Organizações Indígenas da Bacia Amazônica); AIDESEP (Associação Interétnica para o Desenvolvimento da Selva Peruana); APA (Amerindian Peoples Association of Guiana-Guiana); CIDOB (Confederação dos Povos Indígenas da Bolívia); COIAB (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira); CONFENIEA (Confederação das Nacionalidades Indígenas da Amazônia Equatoriana); FOAg (Organizações da Federação Autóctones Guyabe – Guiana Francesa); OIS (Organisatie Van Inheemsen no Suriname); OPIAC (Organização Nacional dos Povos Indígenas da Amazônia colombiana) e ORPIA (Organização Regional dos Povos Indígenas do Amazonas – Venezuela).

Fonte: InfoAmazonia, Consejo Interamericano de Espiritualidade Indígena, Observatório das Veias Abertas

Foto: Divulgação


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