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PECUÁRIA DE LEITE APRESENTA ESTAGNAÇÃO EM 2018 APÓS CRESCIMENTO DE 5% EM 2017


Estagnação acontece depois de um ano (2017) em que a produção cresceu 5%, deixando para traz um longo período de crise

A produção de leite sob inspeção no Brasil fechará 2018 com crescimento próximo de 0%, segundo projeta o Núcleo de Desenvolvimento Socioeconômico da Embrapa Gado de Leite (MG). O setor fechou o primeiro semestre deste ano registrando uma queda de produção da ordem de 0,3%, comparado ao mesmo período de 2017. Entre os fatores que contribuíram para o resultado ruim estão a greve dos caminhoneiros e o aumento dos custos de produção. “Em maio, quando ocorreu a greve, registrou-se o pior índice que se tem notícia para um único mês, com a produção ficando 9,3% mais baixa que o ano anterior”, diz o pesquisador da Embrapa Glauco Carvalho. Esse número revela que deixaram de ser captados 176,7 milhões de litros de leite.

A estagnação acontece depois de um ano (2017) em que a produção cresceu 5%, deixando para traz um longo período de crise. Os anos de 2015 e 2016 haviam apresentado queda de 2,7% e 3,7%, respectivamente. A diferença é que naquele biênio a produção leiteira atravessava uma crise global. No pior momento, o preço internacional do litro do leite pago ao produtor chegou a US$ 0,22 e a tonelada do leite em pó foi vendida a US$ 2 mil (em setembro deste ano o produto foi vendido a US$ 3 mil a tonelada). Segundo o International Farm Comparison Network (IFCN), rede que compara os custos das fazendas produtoras de leite no mundo, o preço pago ao produtor está estabilizado em US$ 0,35 por litro, próximo ao preço histórico que é de US$ 0,37.

De acordo com o também pesquisador da Embrapa Gado de Leite Lorildo Stock, a estabilização do preço internacional indica que a demanda pelo produto está crescendo no mundo. Esse crescimento ainda não teve a capacidade de elevar os preços, pois também há um ligeiro crescimento da oferta. Importantes players do setor vêm aumentando suas produções: Estados Unidos (1,2%,), União Europeia (1,5%), Nova Zelândia (5%) e Uruguai (5%). Entre os grandes exportadores, a exceção é a Argentina, cujo volume de produção vem desacelerando devido à crise econômica pela qual aquele país atravessa, com forte desvalorização cambial, inflação elevada e incremento dos custos de produção de leite.

Menos vacas nas fazendas

Internamente, na avaliação de Stock, “o consumo brasileiro de produtos lácteos não promete crescimento significativo neste ano, pois não houve aumento da renda da população que justifique isso”. Há uma retração da oferta que também se reflete na diminuição dos rebanhos. A quantidade de vacas nas fazendas está diminuindo. Segundo Carvalho, de 2014 a 2017, houve uma queda de 26% do número de vacas no rebanho nacional. “Embora a produção por vaca tenha subido 29%, demostrando que os sistemas de produção estão mais tecnificados, elevando a produtividade, menos vaca na fazenda também pode significar menos leite no tanque”, conclui o pesquisador. Abater vacas menos produtivas costuma ser uma resposta do pecuarista para reforçar o caixa em momentos de crise.

Arte: Eduardo Pinho

Câmbio e combustível por trás da crise

A taxa de câmbio, que está girando em torno de R$ 4,00 por dólar, é um dos fatores que pressionam os custos, agravado pela alta dos combustíveis. Um estudo feito pelo Núcleo de Desenvolvimento Socioeconômico da Embrapa Gado de Leite, considerando os preços dos últimos 12 anos, verificou que o câmbio tem forte impacto nos custos de produção. “A correlação entre o custo de produção de leite e a taxa de câmbio foi de 0,84, o que indica que essas variáveis caminham juntas no tempo”, diz Carvalho, que completa: “Em outubro começou o plantio de milho para silagem; o impacto do câmbio e do petróleo, que se traduz no aumento do preço dos fertilizantes, defensivos e sementes, é preocupante”.

Outro motivo para preocupação, segundo o pesquisador, são as margens de lucro dos laticínios. “Nos mercados de leite UHT, leite em pó e muçarela, desde meados de 2016, as margens dos laticínios permanecem deprimidas, dificultando o pagamento de preços melhores ao produtor”, revela o cientista. Mas um dado positivo, que contribui para manter os preços em um patamar mais estável, é a diminuição no volume das importações. De janeiro a agosto, a importação caiu 27%: de 968 milhões de litros para 707 milhões de litros.

Entretanto, as exportações brasileiras de lácteos também caíram: de 90 milhões de litros para 39 milhões. A balança comercial brasileira de lácteos apresenta um déficit de 668 milhões de litros, representando US$ 270 milhões. Embora sejam números pequenos, diante da economia nacional como um todo, trata-se de um déficit considerável para o setor, comparado à pujança da agricultura brasileira.

Melhoras no mercado para 2019

Devido ao fim da entressafra, o consumidor deve pagar menos pelo produto nos próximos meses (no auge da entressafra, o preço do leite UHT ao consumidor chegou a custar R$ 4,10/litro). Já para o produtor, a expectativa é que o preço fique melhor no início de 2019, comparado ao início de 2018, pois, segundo Carvalho, a relação entre oferta e demanda está mais ajustada. Com relação ao mercado global, durante a conferência anual do IFCN, realizada em Parma, na Itália, os especialistas estimaram um crescimento um pouco mais robusto na demanda de lácteos para o próximo ano. A tendência é que os preços pagos ao produtor se sustentem. Em reais, segundo os indicadores do IFCN, o produtor internacional está recebendo uma média de R$ 1,10 pelo litro de leite, enquanto o produtor brasileiro recebe em média R$ 1,27.

A conferência do IFCN também fez estimativas a longo prazo. Stock, que representou o Brasil no evento, afirma que, para atender à demanda por produtos lácteos em 2030, o setor deverá aumentar a produção em 304 milhões de toneladas por ano. Isso equivale a três vezes a produção leiteira dos Estados Unidos, atualmente. Para ativar essa produção, o IFCN estima que o preço do leite mundial atinja US$ 0,40 (superior à média histórica).

A conferência do IFCN também analisou a automação e as tecnologias digitais emergentes adotadas nas fazendas (softwares, hardwares, sensores, câmeras, etc.). “O volume de dados gerados com a big data na pecuária de leite é crescente”, afirma Stock. Segundo ele, os dados contêm informações preciosas que possibilitam revelar padrões, tendências e associações, especialmente relativos ao comportamento e interações entre indicadores. “O big data está levando à criação de novos valores para produtores de leite, laticínios e consumidores.” Stock diz ainda que a disponibilidade de informações está ajudando a melhorar a produtividade e o manejo do rebanho. “Com as tecnologias se tornando mais acessíveis aos produtores, ampliaremos as fontes de informação, conquistando maior precisão e rapidez na solução de problemas complexos”, conclui.

  • Fonte: Rubens Neiva (MTb 5445/MG) Embrapa Gado de Leite


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